quarta-feira, 4 de julho de 2012

Felicidade Merecida (A Revolta de Atlas - Ayn Rand)

Esse post é basicamente uma transcrição de trechos selecionados do discurso de John Galt no volume III do incrível livro "A Revolta de Atlas" de Ayn Rand. Esse capítulo explicita a filosofia que embasa todo o pensamento da autora de uma forma mais crua e direta. Ao longo de todo livro já havia percebido a similaridade da filosofia apresentada nele com a essência do Vedanta, que fui tão longe para estudar a fundo. Listo aqui de forma breve e não extensiva os principais pontos de similaridade entre estas filosofias:
1- O que diferencia o ser humano de todos os outros seres vivos do planeta é o intelecto (sua capacidade de raciocínio e de discernimento). A base de ambas filosofias é essa, você e seu intelecto é que sempre devem decidir sobre o que faz sentido ou não. E que esta sua escolha de pensar por si próprio e entender por si a vida e vivê-la é que permite sermos felizes de fato.
2- Tudo que acontece, a capacidade individual de cada um e o que cada um busca é justo e merecido. No Vedanta isso é exposto pela Lei do Karma, aqui ela fala mais do mundo econômico/produtivo e  por isso simplifica como lucro e merecimento (comércio justo).
3- Que seguir religiões, políticas ou qualquer conceito que seja ilógico (ou que não entendamos) e que nos tentem impor é abdicar de SER humano em sua essência e consequentemente é estar fadado a infelicidade real, com momentos de euforia e de tristeza intercalados. E que pior do que a pessoa que tenta impor é a pessoa que aceita essa imposição e se submete aos que os outros pensam e ditam. E nesse ponto o livro me ajudou a dar um nome muito bom a isso: a sanção da vítima!
4- E o mais importante, uma vez que a felicidade está diretamente atrelada a nossa decisão de usar nosso intelecto, para escolher o que queremos ou não, consequentemente não dependemos de ninguém mais para decidir. Ambas filosofias nos dão total autonomia para sermos ou não felizes de fato. Ou seja, ser feliz, ao final é uma questão de escolha, uma atitude, uma decisão individual!

Por isso, leia, reflita e decida: de qual lado você quer estar? Está prontos para se responsabilizar pela sua própria felicidade? Está pronto para não ter mais a quem culpar pelos problemas que venham a ocorrer na sua vida?


"A felicidade não se atinge por meio de caprichos emocionais. Ela não é a satisfação de todo e qualquer desejo irracional que vocês tentem satisfazer às cegas. Felicidade é um estado de alegria não contraditória - uma alegria sem castigo nem culpa, que não entra em conflito com nenhum de seus valores e não contribui para sua própria destruição -, não o prazer proporcionado pela fuga da sua consciência, e sim pela utilização plena dessa consciência; não o prazer de falsear a realidade, e sim o de atingir valores reais; não o prazer de um bêbado, e sim o de um produtor consciente."

"Vocês querem se esquivar da dor. Nós queremos atingir a felicidade. Vocês existem para evitar o castigo. Nós existimos para fazer jus a recompensas."

"Desde pequenos, vocês fogem do terror de uma escolha que jamais ousaram identificar explicitamente: de um lado, o que é prático - tudo aquilo que vocês precisam fazer para existir, tudo o que dá certo, que realiza seus objetivos, que lhes proporciona alimeto ou prazer, que lhes traz lucro, é mau -; do outro, o que é bom e moralmente correto, mas não é prático - tudo que dá errado, destrói, frustra, tudo que faz mal a você e lhes proporciona prejuízo ou dor. Na verdade a escolha é esta: ser moralmente direito ou viver."

"Ou então, se optassem por pensar, perguntem a si próprios quanto suas mentes seriam capazes de descobrir. Perguntem quantas conclusões chegaram por seus próprios meios durante toda a vida e quanto tempo passaram repetindo lições aprendidas com outros." (...) "O eu que vocês traíram é a sua mente; amor-próprio é confiar na capacidade própria de pensar. O eu que buscam, aquele eu essencial que não podem exprimir nem definir, não consiste nas suas emoções nem nos seus sonhos desconexos(...) Vocês ainda guardam uma vaga ideia - não nítida como uma lembrança, e sim difusa, como a dor de uma saudade sem esperanças - de que em algum momento da sua primeira infância, antes de aprenderem a se submeter, a abosrver o terror do irracional e quetionar o valor de sua mente, conheceram um estado radiante de existência, a independência de uma consciência racional encarando um universo aberto. Esse é o paraíso que vocês perderam e que buscam - que pode ser seu quando quiserem."

"A felicidade era a responsabilidade que vocês temiam, e ela exigia aquela espécie de disciplina racional que não se valorizavam o bastante para assumir - e a esterilidade ansiosa da sua vida é o monumento à sua insistência em se evadir da consciência de que não há substituto moral para a felicidade, não há covarde mais desprezível do que o homem que abandonou a batalha pela sua própria felicidade, temendo afirmar seu direito à existência, faltando-lhe a coragem e a lealdade à vida que têm uma ave ou uma planta que procura o sol."


Por fim, um ponto bem prático que o livro aborda e que é muito bom estar ciente é que a nossa sociedade prega a muito tempo que pensar - ter opinião própria, acreditar na sua capacidade mesmo que a maioria pense diferente e que é possível fazer o que nunca foi feito por ninguém - é algo ruim, egoísta, etc. De alguma forma tentam nos fazer nos sentir culpados por sermos mais capazes em algumas coisas que outros e que por isso somos OBRIGADOS a ajudar o próximo que é menos capaz. E este último trecho deixa muito clara uma "pequena diferença, que faz toda diferença" quando nos referimos a ajudar ao próximo:

"Um passo básico na aprendizagem do amor-próprio é encarar como sinal de canibalismo toda exigência de ajuda. O homem que exige ajuda de vocês está afirmando que a sua vida é propriedade dele - e, por mais repugnante que isso seja, há algo ainda mais repugnante: concordar e aceitar. Perguntam vocês: 'É bom ajudar outro homem?' Não, se ele afirma que se trata de um direito dele ou de um dever moral seu; sim, se isso é o que vocês desejam, com base no prazer egoísta que lhes proporciona o valor da pessoa e a luta do outro. O sofrimento como tal não é valor; só a luta contra o sofrimento é. Se optarem por ajudar um homem que sofre, façam-no apenas com base nas virtudes dele, na sua luta para se salvar, na sua racionalidade, ou no fato de que o sofrimento é imerecido. Nesse caso, seu ato continua sendo uma forma de comércio, e a virtude dele é o pagamento da sua ajuda. Mas ajudar um homem desprovido de virtudes, ajudá-lo apenas porque ele está sofrendo, aceitar seus defeitos, sua necessidade, como algo que imputa a vocês uma obrigação, é aceitar que um zero hipoteque os seus valores. Ajudá-lo é sancionar seu mal e manter sua carreira de destruição."

Om Tat Sat!