domingo, 17 de março de 2013

Dos Paradoxos: Dar e Receber


Por que dar tanto a quem sabemos que não pode ou quer retribuir? E, pior ainda, por que não se abrir por completo para receber de quem tem tanto a dar e trocar?

Muitas vezes, na ânsia de fazer o bem, achamos que cabe a nós só dar. Se dar por completo, dar até o próprio avesso. Não um dar natural, tranquilo, onde se dá aquilo que sobra. Um dar além do que temos, dar até o que mais precisamos e queremos. Se entregar por completo. Mas deve haver um limite para isso, que é momento que ultrapassamos a barreira de nós mesmos, do que temos a oferecer. Assim não estamos mais dando, por mais que essa seja nossa sincera intenção. Estamos presos, cegos e esquecendo de nós mesmos. E na hora que não olhamos mais para nós mesmos, acabamos não podendo mais dar de verdade... Continuamos a dar, mas o que estamos dando é uma parte de nós, que vai nos faltar e então a linha entre esta doação e a dependência se torna muito tênue. E esse é o paradoxo do Dar e Receber: a doação máxima só pode ocorrer quando também se recebe. Não é possível dar mais do que se tem. E a forma mais genuína e sincera de dar, é também saber receber na proporção adequada. Caso contrário a balança fica muito descompensada e, como tudo na vida, isso tem suas consequências.

Mas depois de viver assim por muito tempo e por muitas vezes sofrer com isso, agora decidi me abrir para receber!! Não quero mais ser herói, não quero fazer o impossível, não quero mais que só eu faça... Quero ser cuidado, olhado e ajudado. Sim, eu também preciso de ajuda. Todos precisamos. Quero receber com abertura, para poder, aí sim, dar sem limites!! Pois no outro extremo, só receber pode virar ser incapaz ou controlado, o que também não é saudável. Gera dependência no outro. E esse é o lado mais curioso dessa reflexão, a dependência (psicológica) não é da pessoa ajudada, que recebe. Esta pessoa está fazendo o papel que lhe cabe, se precisa de ajuda, aceita a ajuda e pronto. Mas aquele que se dá além da conta é que não percebe, mas passa a depender na hora que extrapola seus limites. Depende de se sentir útil ajudando, de se sentir capaz de poder fazer "tanto assim". E depende do pedaço seu que foi doado. É a dependência de querer ser mais do que se é.

Mas a vida serve para aprender. E desta forma, mais uma grande lição fica. E agora ela precisa ser praticada com ainda mais afinco do que toda a prática de ajudar. Quero receber sim!! Mas quero receber só o que mereço e o que o outro tenha sobrando e queira dar. "Eu só quero o que é meu." Quero uma troca sincera e equilibrada e nada mais!! Pois isso é tudo!

segunda-feira, 4 de março de 2013

Saudade de Escrever


Saudade de escrever... Ou será saudade de motivo para escrever?! Acho que não. Na verdade a saudade é de algo que busco, vontade de escrever profundamente quando se está bem!

Não sei se ocorre só comigo, mas em momentos difíceis, sofridos, costumo escrever muito mais. Com naturalidade textos profundos aparecem no papel. As poucas vezes que escrevi em momentos bons da minha vida, ou foi por amor, para louvá-lo, ou foi para registrar uma ideia. E nestes 2 casos os textos são muito diferentes. Um visceral, aberto, entregue. Um grito para o mundo, para que todos ouçam que amo! O outro lógico, estruturado, objetivo. Um discurso para ver se de alguma forma consigo acessar o mundo e com isso plantar algumas humildes sementes de mudança.

Vendo desta forma, começo a achar que a saudade que sinto é de algo que nunca tive: escrever texto com emoção, que não sejam só sobre amor, mas que passem as ideias de mudança, tocando no coração. E pensando ainda mais fundo, e por mais paradoxal que seja, estou é com saudade da mudança que ainda quero para mim. Conseguir, em todas as áreas da vida, unificar o lado que toca o coração com o lado lógico. Unir o monge e o executivo! O apaixonado e o filósofo! E quero essa união de forma completa e integral. Quero traduzir nas palavras um processo que venho buscando em mim. Um processo onde busco mais clareza e sabedoria na hora da paixão e que busco mais paixão e emoção da hora razão. Quero ser um executivo que toque os corações! E quero ser um amante que construa com solidez!

E vejam como é a vida?! O simples fato de sentir essa saudade de escrever, que me fez colocar essas linhas no papel, já me diz muito. Ao ler o que estou escrevendo, percebo que a minha saudade é pela retomada explícita do meu crescimento como SER. Como já escrevi por aqui, nos últimos anos conheci os limites para encontrar os respectivos pontos. Vivi tudo isso muito intensamente e aprendi muito. Mas agora percebo que é momento de buscar a união destes pontos opostos. Não uma união de caminho do meio, de uma coisa nem lá, nem cá. Mas sim de uma união como Yin-Yang, uma união harmônica dos opostos, em que eles convivam juntos durante cada ação. Que a emoção esteja na razão, na devida proporção. E que razão esteja na emoção, também em seu devido lugar. Que na hora de ser sério, eu saiba encontrar a brincadeira adequada. Que na hora de ser brincalhão, eu encontre a mensagem a ser passada. E que mais que tudo isso, que esse equilíbrio se torne um hábito natural em meus pensamentos, palavras, atitudes e ações. E com isto eu consiga me comunicar realmente com os que me cercam. E que por fim, que juntos possamos transformar nossos hábitos e vivermos todos de forma mais integrada e equilibrada. E isto acontecendo, a leitura de textos como este torne-se irrelevante. Pois já viveremos todos assim.

E acho que agora sim, ao final desta reflexão, chegamos ao ponto central: escrevemos porque achamos que temos o que dizer aos outros, escrevemos porque achamos que isso pode ser útil de alguma forma. Ou seja, em última instância, escrevemos para fortalecer nossa própria mudança e tentar com isso auxiliar a mudança dos outros. Minha saudade de escrever é saudade de buscar e comunicar de forma mais profunda. Minha saudade de escrever é essa vontade infindável de querer melhorar e com isso poder contribuir, mesmo que de forma microscópica, com alguma mudança ao meu redor. Então, vou com tudo atrás dessa minha nova mudança!

Que bom matar essa saudade!!