Por que dar tanto a quem sabemos que não pode ou quer retribuir? E, pior ainda, por que não se abrir por completo para receber de quem tem tanto a dar e trocar?
Muitas vezes, na ânsia de fazer o bem, achamos que cabe a nós só dar. Se dar por completo, dar até o próprio avesso. Não um dar natural, tranquilo, onde se dá aquilo que sobra. Um dar além do que temos, dar até o que mais precisamos e queremos. Se entregar por completo. Mas deve haver um limite para isso, que é momento que ultrapassamos a barreira de nós mesmos, do que temos a oferecer. Assim não estamos mais dando, por mais que essa seja nossa sincera intenção. Estamos presos, cegos e esquecendo de nós mesmos. E na hora que não olhamos mais para nós mesmos, acabamos não podendo mais dar de verdade... Continuamos a dar, mas o que estamos dando é uma parte de nós, que vai nos faltar e então a linha entre esta doação e a dependência se torna muito tênue. E esse é o paradoxo do Dar e Receber: a doação máxima só pode ocorrer quando também se recebe. Não é possível dar mais do que se tem. E a forma mais genuína e sincera de dar, é também saber receber na proporção adequada. Caso contrário a balança fica muito descompensada e, como tudo na vida, isso tem suas consequências.
Mas depois de viver assim por muito tempo e por muitas vezes sofrer com isso, agora decidi me abrir para receber!! Não quero mais ser herói, não quero fazer o impossível, não quero mais que só eu faça... Quero ser cuidado, olhado e ajudado. Sim, eu também preciso de ajuda. Todos precisamos. Quero receber com abertura, para poder, aí sim, dar sem limites!! Pois no outro extremo, só receber pode virar ser incapaz ou controlado, o que também não é saudável. Gera dependência no outro. E esse é o lado mais curioso dessa reflexão, a dependência (psicológica) não é da pessoa ajudada, que recebe. Esta pessoa está fazendo o papel que lhe cabe, se precisa de ajuda, aceita a ajuda e pronto. Mas aquele que se dá além da conta é que não percebe, mas passa a depender na hora que extrapola seus limites. Depende de se sentir útil ajudando, de se sentir capaz de poder fazer "tanto assim". E depende do pedaço seu que foi doado. É a dependência de querer ser mais do que se é.
Mas a vida serve para aprender. E desta forma, mais uma grande lição fica. E agora ela precisa ser praticada com ainda mais afinco do que toda a prática de ajudar. Quero receber sim!! Mas quero receber só o que mereço e o que o outro tenha sobrando e queira dar. "Eu só quero o que é meu." Quero uma troca sincera e equilibrada e nada mais!! Pois isso é tudo!
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